O que orquestras, ballets e ecossistemas têm em comum quando o futuro pede mais do que improviso
Outro dia, no palco do Teatro Tobias Barreto, em Aracaju, a Orquestra Sinfônica de Sergipe comemorou seus 40 anos. Um concerto especial que trouxe à cena a grandiosidade das obras de Tchaikovsky e, com elas, a delicadeza do corpo de baile da Partners Centro de Dança – compondo um diálogo raro e preciso entre som e movimento, entre a força e a leveza, entre estrutura e expressão.

Enquanto a música preenchia o teatro, o maestro conduzia cada instrumento com rigor e sensibilidade, revelando uma harmonia construída a partir da diversidade: timbres distintos, afinações únicas, funções complementares. Cada músico, com seu talento e papel singular, somava ao todo — sem sobrepor, sem apagar o outro.
Assim também se comporta um ecossistema de inovação. Ele é feito de diferentes atores — startups, universidades, empresas, governo, investidores, comunidades — que precisam tocar juntos, mesmo com linguagens próprias, para que uma transformação aconteça. A diversidade é a regra, mas a sinergia é o que gera valor.

Tchaikovsky, cujas obras atravessam séculos, sabia disso intuitivamente. Sua vida foi marcada por conflitos internos, tensões sociais e uma busca constante por pertencimento — desafios que também vivem os inovadores. Em peças como O Lago dos Cisnes, O Quebra-Nozes e a Sinfonia nº 6 (Patética), ele traduziu a angústia criativa em beleza duradoura. Ele inovou respeitando a tradição, transgrediu sem perder a essência — como fazem os empreendedores e pesquisadores que criam a partir de contextos desafiadores.
Nesse cenário, o compositor é como o fundador de uma startup: visionário, inquieto, movido por uma vontade de criar algo singular. Já o maestro é o articulador do ecossistema: gestores, mentores, lideranças que guiam o conjunto, ajustam o ritmo, equilibram forças e promovem colaboração real.

E o público? São os territórios, as comunidades, os usuários finais. São eles que dão sentido à inovação. Porque inovação que não dialoga com a vida real, com os problemas urgentes, com a identidade local, não ressoa. Assim como o ballet dança os sentimentos de uma cultura, a inovação precisa tocar as pessoas.

Naquela noite, o passado e o futuro se encontraram em forma de arte. Mais do que um espetáculo, uma aula sobre como criar coletivamente, com propósito, objetivo comum e beleza. Uma metáfora perfeita para o que desejamos ver nos ecossistemas de inovação — sincronia, diversidade e propósito comum. Ecossistema pede estratégia orquestrada e singular.
Na Poliniza Projetos, estamos criando um projeto que une música sinfônica e conhecimento sobre inovação. A proposta é apresentar os conceitos e papéis de um ecossistema empreendedor por meio da metáfora de uma orquestra, tornando esse universo mais acessível e compreensível para diferentes públicos. Porque inovação também é ritmo, escuta, colaboração — e, sobretudo, uma forma de tocar o mundo.
